Sunday, June 7, 2009

Ela ainda guardava no armário a camisa dele. Toda noite, tirava-a do cabide, estirava-a ao lado esquerdo da cama - o lado da porta - e se deitava no peito invisível que um dia foi de seu marido. As fotos faziam a sala de estar encher-se com um tom fúnebre, onde todos os poucos olhares que por ali passavam, direcionavam-se para o chão. Ao levantar, ela servia na mesa, dois copos, pratos, talheres e guardanapos e suas receitas eram sempre preparadas para dois. Seu passatempo era a mesa de xadrez que ela jogava contra si mesma e sempre deixava o lado esquerdo - o lado da porta - ganhar. Este ciclo repetia-se dia após dia, sem um descompasso, sem sair do ritmo. Tinha entrado em plena loucura, falando com as paredes, com sapatos e gravatas. Decidiu que esqueceria a morte. A morte não existia, jamais existiu. Ela continuou sua vida, com os fantasmas da própria mente.

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