Wednesday, April 29, 2009

Dois pra duzentos.

No fundo, eu ouvia um toque especial de Los Hermanos, e quase percebia como era proposital. Sentava em sua cama com uma saia curta de jeans e uma camiseta. Meus pés estavam descalços e meus cabelos soltos. Há tempos não me sentia tão eu, sem precisar provar nada a ninguém. Tocava violão, mas confundia minhas notas com as do rádio, então desistia simultâneamente. "E até quem me vê, lendo jornal, na fila do pão, sabe que eu te encontrei e ninguém dirá que é tarde demais, que é tão diferente assim. Do nosso amor, a gente é que sabe, pequena..." Cantarolava com os olhos vagando pelo quarto. Via marinheiros na parede, uma televisão, cama encostada na parede, mais de cinquenta dvds enpilhados, que continham entre si meus favoritos e livros de Chico Buarque nas estantes de madeira. Me sentia segura e serena, como alguém que acabou de encontrar seu propósito, seu cais. "E só de te ver, eu penso em trocar (uh-uh-uh) a minha tv, num jeito de te levar à qualquer lugar que você queira e ir onde o vento for, que pra nós dois, sair de casa já é se aventurar...". Ouvia as mais lindas palavras ditas e reditas tantas vezes por ele. Era aquilo, aquela letra, que explicava o nosso laço que em tão pouco tempo, tinha virado o mais forte que eu tive, o mais bonito e o que me aparava em qualquer tropeço. A insegurança porém, tomava uma pequena parte de mim. Eu não pensava mais no mundo, pensava em nós dois, e não sabia se aquilo que parecia ser nuance era real.
-Senta aqui.
-Aí?
-É, aqui no meu colo.
Ele me dispôs as pernas longas e me fez caber em seu colo como fazia com um gato. Tão confortável, eu lhe dei um beijo.
-Como você tá?
-Tô segura.
-Em relação...?
-Ao mundo, a você... a tudo.
-Elabore...
-Não sei, você me faz me sentir bem, como se eu fizesse parte de tudo.
Os seus olhos tomaram confiança e eu quase consegui sentir uma escolha dentro de seus pensamentos. Uma escolha boa, uma coisa para sempre.
-A gente tá há um tempo junto... eu...
-O que?
-Bru, a gente tá junto e eu gosto tanto de você, gosto tanto de estar com você... gosto do seu jeito, sabe?
-Como assim?
-Não sei, eu olho pra você... por exemplo... quando você espirra! Eu sei que você é a mulher da minha vida quando você espirra, sabe? Eu te olho e falo: nossa, quero ficar com ela pro resto da vida! Só porque ela espirra desse jeito.
-Hahahaha... então você gosta de mim pelo meu espirro?
-Você sabe o que eu quero dizer...
-Sei... eu sei.
-Mas não é bem isso que eu queria dizer. Quer dizer, é e não é. O que eu estava dizendo é que... bom, nós estamos juntos há um tempo e eu gosto de estar com você. Gosto do teu jeito, do teu cheiro, do teu beijo, do abraço, das tuas idéias, gostos, risadas, sorrisos... e eu quero saber se...
-Se o que?
-Você quer namorar comigo?
A sensação de segurança tinha se multiplicado agora por mil. Meu corpo esquentava e foi tão fácil dizer o que meu coração sentia que nem o cérebro se atreveu a interromper. Agarrei-o com força, mordi seu ombro sorrindo e tentando conter a felicidade. Levantei a cabeça. Meu rosto estava em uma só vermelhidão e meu coração batia forte. A palavra estava vindo, como um vômito que não se pode evitar. Passava pelas minhas cordas vocais até chegar a boca. Meus dentes já não conseguiam conter, eu precisava dizer.
-Sim!
-Sim?
-Sim!
-Sim? Sim? Mesmo?
-Sim! Sim! Sim! Ah, não acredito! Que bom!
"Eu encontrei e quis duvidar, tanto clichê deve não ser. Você me falou pr’eu não me preocupar... ter fé e ver coragem no amor".

1 comment:

c. said...

QUE LINDO *-*