Thursday, November 26, 2009

Like a shooting star,
I will go the distance!
I will search the world,
I will face its heart.
I don't care how far,
I can go the distance
Till I find my hero's welcome
Waiting in your arms.

Tuesday, November 24, 2009

Monday, November 23, 2009

A minha solidão é gostosa. Ela dá medo e trás lágrimas aos olhos, mas eu sei que ela existe e não a renego. Me sinto forte quando estou só, como se eu viciasse em minha solidão, como se fosse uma droga. "E sem nós dois, o que resta sou eu, eu assim tão só." É bom me sentir sozinha, sentir meus gostos, meu atos, meu pensamentos. Sentir-me viva como um pedaço, como uma pessoa. Por vezes, sinto meu coração dolorido e machucado pela falta, mas então choro um choro de criança e então a dor passa. O peito soluça, o sono vem, penso em mim mesma, mais ninguém. Penso em como sou, quem sou, quando quero, o que quero. Penso no que como, que filmes assisto, que lugares gosto de ir, que lugar do teatro gosto de sentar. Sem acordos com outros, sem vontades alheias. Só eu, só nessa sala de cinema. Sem circo, sem palhaço. Minha pura alma só, apenas com o meu coração indeciso.

O medo.

Eu não sei o que te falar. Só sei que não aguento mais. Quero paz, quero sossego e felicidade. Quero rir, ir ao cinema, subir em árvore. Quero amor e vida. Sorrisos, chá. Não quero ter medo, não quero ter remorço nem sentimento de vingança. Quero amigos, cheiro de roupa lavada. Quero rolar na grama, me molhar no mar sem medo da água fria, abrir os braços. Quero mais música ao vivo, que você nem gosta. Quero que você não minta para me deixar nervosa. Eu quero tanta coisa. Quero você, mas não desse jeito, não assim. Eu quero paz, rolar na grama sem medo de me sujar. Quero música ao vivo que você diz que não gosta mas é só pra me deixar nervosa. Quero vinho na praia, à noite. Deitar a cabeça no teu colo e sonhar com as estrelas. Não sei mas o que faço trancafiada neste banheiro escuro fumando cigarros e te contando esses absurdos. Você nem ao menos vai entender. Quero ser entendida. Quero abrir os olhos e não ter vontade de chorar, não quero ter vontade que você mude. Quero a paz. Eu quero tanta coisa. Quero mãos dadas e pés descalços sem medo que entre um bicho de pé. Quero andar no frio sem casaco e sem medo de pegar resfriado. Quero rolar na grama sem medo de me sujar. Quero ouvir música alta sem medo de ficar surda. Quero me tacar de um avião e abrir um pára-quedas sem ter medo de morrer. Quero cores, luzes, vida. Quero paz. Quero o medo pra lá. Tira o medo da gente, tira o medo das coisas? Por mim?

medo (ê)
s. m.
1. Receio.
2. Terror; susto.
3. Pop. Alma do outro mundo.

Entertain us.




KISS.

Há muito tempo não tenho tido a vontade de escrever sobre os shows que presenciei. Fazem mais de nove meses(nasceu o filho) que me sinto desmotivada para registrar o que senti durante as apresentações. Não que eu tenha assistido shows mal feitos, pelo contrário. Simplesmente não sentia mais vontade de escrever, a preguiça era mais forte. Ontem à noite, Paul Stanley, Gene Simmons, Peter Criss e Tommy Thayer arrancaram essa preguiça de mim e mandaram ela e muitos outros estados de espírito negativos para o espaço. Com uma fúria deliciosa, eles entraram ao palco com luzes, fogos, cruzes queimando e guitarras de vidro. O show pode-se ser comparado à um trem fantasma de cores. Desde o começo, o coração já começa a bater forte quando ao entrar no estádio, crentes de todas as igrejas vegetam em frente ao Oracle Arena em Oakland. Com mil placas, cartazes e camisetas, sua missão é convencer o maior número de fiéis ao Kiss possíveis a voltarem para suas casas. Com gritos e palavras "do Senhor", eles protestam contra as caras e bocas que Simmons faz no palco e declaram a sete mundos que a banda tem um pacto com o fantástico senhor Capeta. Minha vontade de presenciar esses demoníacos senhores de 60 anos aumentou em uma escala de dó-ré-mi. Ao entrar no estádio, crianças, adultos e senhores carregavam no rosto as famosas maquiagens dos quatro integrantes. A cara do gato do Peter, a estrela do Paul, o metálico prateado do Tommy e o morcego negro do Simmons. Maquiadores faziam os estilos de graça e eu decidi sentar em uma das cadeiras e como uma boa fã que desde pequena tinha o boneco do Paul Stanley no quarto, pedir a estrela no olho direito. Com lábios vermelhos e a revolta nos olhos, entrei pela arquibancada e vi um grande pano negro com o nome da banda escrito em prateado cobrindo todo o palco, como um presente na caixa de surpresa. Em breve, o palhaço saltaria me dando um susto e me fazendo rir. E foi assim que aconteceu, quando as luzes se apagaram e no telão, Gene Simmons apareceu com sua língua magistral balançando, dando o terceiro sinal. Ao som das guitarras, o pano foi arrancado revelando quatro homens vestidos com roupas assustadoras, mas cheios de glamour. Tommy, the spaceman, Peter, the kitty, Gene, the bat and Paul, the diva. Quando percebi, a única coisa que eu conseguia fazer era gritar e fazer o sinal do Rock n' Roll, inventado por Ozzy Osbourne na época que ele mordia morcegos. Era impossível não enlouquecer ao som e à imagem daqueles quatro que balançavam as guitarras de um jeito único. Estávamos todos corrompidos pelo som do verdadeiro Heavy Rock. E a minha nostalgia pulsava e piscava quando eu lembrava de meus treze anos enfeitados com coturnos, batons pretos e sobre-tudos. Era pura magia negra, mas eu adorava. E durante o show inteiro, pulei, cantei, dancei ao som de clássicos do Rock. Enquanto aos pobres crentes lá fora com suas mãos segurando os queixos, que Deus os perdôem por terem perdido um show como aquele.

Saturday, November 21, 2009

Matilde.

"Mal sabia ela que, de noite, eu espreitava da minha janela de fundos a hora de Matilde pisar a relva do jardim na ponta dos pés, entre as amendoeiras e a casa dos empregados. Eu descia correndo e lhe abria a porta da cozinha, a respiração curta, e me arregalava os olhos negros. Em silêncio nos olhávamos por cinco, dez minutos, ela com as mãos na altura dos quadris, agarrando, torcendo a própria saia. E corava pouco a pouco até ficar bem vermelha, como se em dez minutos passasse por seu rosto uma tarde de sol. A um palmo de distância dela, eu era o maior homem do mundo, eu era o Sol. Via seus lábios se entreabrirem, e acima deles brotavam umas gotículas de suor, enquanto suas pálpebras devagar cediam. Enfim eu me jogava contra o corpo dela, pressionava o corpo dela contra a parede da cozinha, sem contatos de pele, e sem avanços de mãos ou de pernas, por algum acordo jamais expresso. Com meu tronco eu a esmagava, quase, até que ela dizia eu vou, Eulálio, e seu corpo tremia inteiro, levando o meu a tremer junto. Sobrevinha-me um desgosto, depois uns pensamentos paralelos, o cachorro do vizinho, a cerveja gelada na Frigidaire, o lago quente em minhas coxas, o cachorro, minhas calças e cuecas esporradas, a Frigidaire que meu pai mandou vir dos Estados Unidos, a lavadeira mostrando minhas roupas à mamãe, a cerveja na Frigidaire que papai não chegou a ver. Quando dava por mim, estava colado nos ladrilhos da parede, porque num deslize Matilde sempre me escapava. E a cada vez eu ia inspecionar salas, quartos, banheiros, porão e sotão, fingindo crer que ela teria fugido por engano para dentro de casa."

Leite Derramado - Chico Buarque.

Morgue Story.

Morrer é um troço que acaba com a vida.

Friday, November 20, 2009

I'll never look behind me,
My troubles will be few.


Words are flying out like
endless rain into a paper cup.
They slither while they pass,
They slip away across the universe.
Pools of sorrow, waves of joy
are drifting thorough my open mind,
Possessing and caressing me.

Images of broken light which
dance before me like a million eyes
That call me on and on across the universe.
Thoughts meander like a
restless wind inside a letter box.
They tumble blindly as
they make their way across the universe.

Sounds of laughter, shades of life
are ringing through my open ears,
exciting and inviting me.
Limitless undying love which
shines around me like a million suns,
It calls me on and on across the universe.

Lista de músicas.

Tocar no violão.

The Beatles.
-A Hard Day's Night.
-All You Need is Love.
-I am the Walrus.
-I Should Have Known Better.

Marisa Monte.
-Amor, I love you.
-Give me love.
-Não vá embora.
-Pale Blue Eyes.
-Panis et Circenses.



Tuesday, November 17, 2009

OH MY GOOOOOOOOOD!!!

Quem mandou ser tão viciada em Burton e em Lewis Carroll?

Sunday, November 15, 2009

Ah, se eu tivesse um coração...

Father and son.


...I know I have to go away...

Friday, November 13, 2009

I Love Lucy.


Eu devia ter nascido nos anos 50 pra assistí-la toda sexta-feira.

Que a saudade é o pior castigo.

Ó, pedaço de mim.
Ó, metade afastada de mim.
Leva o teu olhar,
Que a saudade é o pior tormento.
É pior do que o esquecimento.
É pior do que se entrevar.

Ó, pedaço de mim.
Ó, metade exilada de mim.
Leva os teus sinais,
Que a saudade dói como um barco
Que aos poucos descreve um arco
E evita atracar no cais.

Ó, pedaço de mim.
Ó, metade arrancada de mim.
Leva o vulto teu,
Que a saudade é o revés de um parto.
A saudade é arrumar o quarto
Do filho que já morreu.

Ó, pedaço de mim.
Ó, metade amputada de mim.
Leva o que há de ti,
Que a saudade dói latejada.
É assim como uma fisgada
No membro que já perdi.

Ó, pedaço de mim.
Ó, metade adorada de mim.
Lava os olhos meus,
Que a saudade é o pior castigo
E eu não quero levar comigo.
À mortalha do amor,
Adeus.
Nos fins de semana que piora ainda mais a tua ausência. Quando as coisas estão acontecendo diariamente, a gente não percebe o pedaço que tiraram da gente. Mas quando chegam os fins de semana, não tem pra onde virar, nem pra quem chorar. É simplesmente o sentimento de solidão e falta. Eu não sei o que faria sem você. Eu só sei que eu não teria meu lado direito.

Tuesday, November 10, 2009

"O amor... ai, o amor!"


Nada ficou no lugar.
Eu quero quebrar essas xícaras.
Eu vou enganar o diabo.
Eu quero acordar sua família.

Eu vou escrever no seu muro.
E violentar o seu rosto.
Eu quero roubar no seu jogo.
Eu ja arranhei os seus discos.

Que é pra ver se você volta,
Que é pra ver se você vem.
Que é pra ver se você olha
Pra mim.

Nada ficou no lugar.
Eu quero entregar suas mentiras.
Eu vou invadir sua alma.
Queria falar sua língua.

Eu vou publicar seus segredos.
Eu vou mergulhar sua guia.
Eu vou derramar nos seus planos
o resto da minha alegria.

Que é pra ver se você volta,
Que é pra ver se você vem.
Que é pra ver se você olha
Pra mim.

Sunday, November 8, 2009

Lista de filmes - ver.

David Lynch.
-Twin Peaks;
-Muholland Drive;
-Wild at Heart;
-The Elephant Man;
-Blue Velvet.

Lars von Trier.
-Idiotern;
-Medea;
-Breaking the Waves.

Stanley Kubrick.
-Full Metal Jacket;
-Barry Lyndon;
-Doctor Strangelove;
-Spartacus.

Henry Selick.
-James and the Giant Peach;
-Monkeybone.

Tim Burton.
-Alice in Wonderland;
-Planet of the Apes;
-Mars Attacks!;
-Pee-wee's big adventures;
-Frankenweenie.

Alfred Hitchcock.
-Frenzy;
-The Birds;
-Psycho;
-The Wrong Man;
-Rear Window.

Francis Ford Coppola.
-Youth without youth;
-The Godfather 2 and 3;
-Rumble Fish;
-Apocalypse Now.

Sophia Coppola.
-The Virgin Suicides.

Woody Allen.
-Whatever works;
-Cassandra's dream;
-Anything Else;
-Mighty Aphrodite;
-Don't drink the water;
-Husbands and wives;
-Alice;
-The Purple Rose of Cairo;
-A Midsummer Night's Sex Comedy;
-Manhattan;
-Everything you always wanted to know about sex, but were afraid to ask;
-Take the money and run.

Wes Anderson.
-Fantastic Mister Fox;
-The Darjeeling Limited;
-The Life Aquatic.

Fernando Meirelles.
-The Constant Gardener;
-Domésticas.

Quentin Tarantino.
-Death Proof;
-Grindhouse;
-Jackie Brown;
-Reservoir Dogs.

Jean-Luc Godard.
-Notre Musique;
-For Ever Mozart;
-Hélas pour Moi;
-King Lear;
-Aria;
-Passion;
-Numéro Deux;
-2 ou 3 choses que je sais d'elle;
-Masculin féminin;
-Paris vu par;
-Vivre sa vie;
-Une femme est une femme.

Paul Thomas Anderson.
-There will be blood;
-Boogie Nights;
-Cigarettes and Coffee.

Danny Boyle.
-The Beach;
-A Life Less Ordinary;
-Shallow Grave.

Darren Aronofsky.
-The Wrestler.
-The Fountain.
-Pi.

Pedro Almodóvar.
-Los Abrazos Rotos.
-La Mala Educación.
-Hable con Ella.
-Todo sobre mi madre.
-La flor de mi secreto.
-Kika.
-Tacones Lejanos.
-Mujeres al borde de un ataque de nervios.
-La ley del deseo.
-Matador.
-Entre tinieblas.
-Labirinto de pasiones.

Carlos Carrera.
-La vida conyugal.
-La mujer de Benjamín.

Carlos Cuarón.
-Me la debes.
-Quien diablos es Juliette?
Sólo con tu pareja.

Alejandro González Iñárritu.
-21 Grams.
-Powder Keg.

Walter Salles.
-Linha de Passe.
-Paris, Je t'aime.
-Abril despedaçado.
-Terra estrangeira.
-A grande arte.

Agustín Díaz Yanes.
-Sin noticias de Dios.

Stanley Donen.
-Blame it on Rio!
-The Little Prince.
-Singing in the rain.

Thursday, November 5, 2009

Wednesday, November 4, 2009

Elisa.

Trecho de "Tieta do Agreste",
por Jorge Amado.


"Quando no dia seguinte a marinete de Jairo buzinou na curva próxima da cidade, Elisa, sentada à mesa antiga, quem sabe de valor, a servir de penteadeira, terminara de passar batom nos lábios e sorrio para a imagem reflectida no espelho barato pendurado na parede. Achou-se bonita. A negra, bravia cabeleira, agora cuidada, solta sobre os ombros, emoldura-lhe a face pálida, o langor dos olhos, a boca de lábios gulosos, acentuados pelo batom.

Linda de morrer, como diz, ao referir-se a estrelas de rádio, teve, cinema, o admirado locutor Mozart Cooper – pronuncia-se Cu…u…per - , voz de veludo nas ondas hertzianas a embalar os corações solitários. Coração solitário, linda de morrer.

Durante alguns minutos esqueceu-se de tudo quanto a afligia e ensaiou poses e trejeitos, imitados das cenas das fotonovelas: um muxoxo com os lábios, olhar apaixonado, sorriso tentador, a ponta da língua a surgir entre os lábios, vermelha e húmida. Beijar a quem? Num gesto cansado encolheu os ombros, os olhos cobriram-se de sombra. Volta a pensar na carta, busca tranquilizar-se: está chegando na mala do correio, trazida pela marinete, de hoje não passa. E se não chegar?

Na véspera, na mesa do almoço, Astério, comilão e apressado, a boca cheia, mastigando feijão e palavras repetia pergunta e lamúria:

- Porque tanta demora? Logo em Novembro, mês de pouca venda, quase nenhuma. Que diabo pode ter acontecido?

Elisa trancara os lábios, se lançasse a suspeita a queimar o peito o marido entraria em pânico. Esmorecido de natureza, incapaz de esforço e luta, o dia inteiro encostado ao balcão da loja à espera da minguada freguesia, animando-se apenas quando um dos parceiros de bilhar – Seixas, Osnar, Aminthas ou Fidélio – aparece para comentar apostas e jogadas; se Ascânio Trindade treinasse, Astério teria adversário pela frente. Osnar, desocupado, faz ponto na loja, o cigarro de palha pendurado no lábio. Infalível aos sábados, quando o movimento cresce por causa da feira. Após vender a farinha, a carne-de-sol, o feijão, as frutas, o cultivo das roças e o barro cozido em pequenos fornos rudimentares – moringas e quartinhas, cavalos e bois, jagunços e soldados, o padre cura e os noivos de mãos dadas, potes e panelas - , os sitiantes e roceiros enchem a loja a comprar fazendas, sapatos, calças e camisas, quinquilharias, vez por outra um rádio de pilha.

Na moita, equilibrado numa velha cadeira, Osnar espreita as caboclas novas, puxando conversa quando lhe parece valer a pena. Nos sábados, o moleque Sabino ganha cinco cruzeiros para ajudar, atendendo a maioria dos rudes fregueses – cinco cruzeiros e o que rouba no troco.

Se Eliza contasse a conversa com Perpétua, Astério seria capaz de ter um daqueles vexames repetidos a cada aperto maior de dinheiro, a cada problema com os fornecedores; suores frios, fraqueza nas pernas. Tontura, vómitos. Recolhe-se à cama, batendo o queixo, tiritando, a loja entregue a Sabino. Só Osnar consegue levantá-lo, arrastando-o para o bilhar, no Bar dos Açores, de seu Manuel Português.

No bilhar transforma-se, vira outro homem. Ri e graceja, arrota valentia, aposta sem medo, manda desafiar Ascânio, certo da vitória. Bom no taco. No taco do bilhar, somente no bilhar taco de ouro, surpreende-se Elisa a resmungar. Censuráveis resmungos, pensamentos ruins, surgiam assim de repente, perseguiam-na os malditos, cruz credo.

A face pensativa no espelho. Linda de morrer, ali perdida, a envelhecer naquelas ruas paradas, à espera da carta e do cheque. Não fossem o rádio de pilha e as revistas, que seria de Elisa?

Se revelasse a Astério o tema debatido com Perpétua, a probabilidade – para a irmã, a certeza – da morte de Tieta, ele vomitaria o feijão, o arroz, a carne, os pedaços de manga, ali mesmo em cima da mesa do almoço. Tirando o bilhar, um molengas, sem ânimo, sem ambição, sem conversa, sem alegria.

As raras prosas, as poucas risadas provinham ainda do bar, picantes histórias dos parceiros, de Seixas e Aminthas, raramente Fidélio, reservado de natureza e por cálculo, quase sempre Osnar, abastado, obsceno e mulherengo. As histórias de Osnar, entre as quais figura o notável caso da polaca, são de morrer de rir, em geral têm a ver com o descalibrado dos seus órgãos sexuais.

Estrovenga de jumento, afirma Astério, distanciando as mãos para indicar a medida espantosa: daqui para maior.

O cansado motor da electricidade deixa de trabalhar às nove da noite, marcando a hora de dormir, confirmada pelas badaladas do sino da Matriz. Astério conclui a partida, encosta o taco, recolhe ou paga as apostas, toma o caminho de casa. Vez por outra, se Elisa ainda não pegou no sono, Astério, ao despir-se, repete a mesma frase, prólogo do caso a narrar: Acontece cada uma!

Osnar ou Aminthas, Seixas ou Fidélio, fosse qualquer dos quatro o personagem, fosse outra figura da cidade, o enredo era quase sempre escabroso envolvendo mulher e cama – cama ou mato na beira do rio. Elisa ouve em silêncio, tensa, atrevendo-se de raro, a pedir detalhes, tão necessários no entanto à construção do imaginado mundo em que se trancara para subsistir, onde cada elemento importava; a grandeza de Antonieta, o postal de Buenos Aires, o perfume no envelope, as tramas de Seixas, os segredos de Fidélio, as patifarias de Aminthas, a anatomia de Osnar. Durante o dia, o rádio ligado sem parar, Elisa passa e remenda roupa, lava pratos, cozinha, lê e relê revistas, visita dona Carmosina no Correio, suporta, após o jantar, a lengalenga da vizinha, dona Lupicínia, cujo marido se mandara há mais de um lustro para as bandas do sul da Baía e não tinha previsão de regresso, vai ver não volta nunca.

Linda de morrer, só mesmo para morrer, para que outra coisa, qual? A boca ante o espelho abre-se ávida para o beijo. Qual beijo? Elisa levanta-se, ai quem lhe dera possuir um espelho onde pudesse se ver de corpo inteiro! Linda de morrer, no fino da moda.

Afinal, pergunta-se a encolher os ombros novamente, por que gasta esse tempão a pintar-se, em ajeitar a negra cabeleira, em fazer-se tão elegante no vestido restaurado, presente da Tieta como todos que possui, cada qual de melhor fazenda e de padrão mais moderno – usado mas pouco, quase novos.

Para que tanto apuro, tanto cuidado com a maquiagem, para que o decote a mostrar os ombros, o nascer dos seios?

Para atravessar as ruas desertas de passantes, perceber o peso do olhar do árabe Chalita, a bigodaça de sultão, a barba por fazer, eterno palito entre os dentes, dono do cinema Tupy e da sorveteria, velho e descuidado ou sentir sem ver a mirada matreira do moleque Sabino fixo no meneio das ancas da inacessível mulher do patrão, ouvir o pestilento assobio do Bafo-de-Bode, mendigo e bêbado? Tão podre e miserável, pode-se dar a todos os atrevimentos sem temer represálias. Esses três infelizes e acabou-se. Além disso, um boa-tarde dona; um chapéu levantado em muda saudação; a bênção do vigário e a incontida inveja das mulheres: Até parece que se vestiu para um baile, querida

Discreta e comedida, esposa honesta e virtuosa, ao passar Elisa recolhe no decote o cúpido olhar do levantino: ao vê-la certamente recorda tempos de antanho e corpos de mulheres; a cobiça do moleque acentua-lhe o requebro da bunda, assim de noite Sabino sonhará com ela. Não despreza sequer o assobio fétido do esmoler. Quanto à inveja das mulheres, tem igualmente merecimento e sabor, Modesta, Elisa responde: Vestido enviado por minha irmã Tieta, é dela o gosto e a elegância, hei-de botar fora? Louvam então em coro a ausente Antonieta, irmã generosa, filha exemplar, a infalível ajuda mensal, os presentes régios – régios, sim senhora, cada vestido desses vale um dinheirão!

Elisa recomenda à pequena Araci atenção na casa, fecha a porta da rua, dirige-se para o correio. Atravessará a feira, passará pelo árabe, pelo moleque, pelo maluco, pelas comadres no adro da Igreja. O rosto sério, como cumpre a uma senhora casada. O coração apertado, lá dentro a certeza de que a carta não chegou.

Tuesday, November 3, 2009

Sunday, November 1, 2009

Does your brain say yes or no?



Quando tudo era solidão, você me trouxe a companhia.
Quando tudo era tristeza, você me trouxe a alegria.
Quando tudo era negro, você me trouxe o colorido.
Quando tudo era clichê, você me trouxe o inesperado.
Quando tudo era entediante, você me trouxe o entusiasmo.
Quando tudo era ódio, você me trouxe o amor.
Quando tudo era exagerado, você me trouxe o equilibrio.
Quando tudo era estampado, você me trouxe o mistério.
Quando tudo era calmaria, você me trouxe a paixão.
Quando tudo era folia, você me trouxe exatidão.
Quando tudo era perdido, você me trouxe a sorte.





Enquanto a mim, o amor me atingiu em cheio, como uma flecha que o cupido atirou em alta velocidade. E de todas as suas flechas, a que me atingiu dizia "incondicionalmente, amor".