- Foi como um trator eterno no coração. Quando eu vi, eu tinha passado a vida insatisfeito. Meu coração era uma terra salgada em excesso. Era uma terra de sal e pedra. A lembrança dela era constante, era o trator eterno. Eu habitava meu coração e só tinha uma enxada. Cultivava pequenas hortas magras e temporárias que acabavam sempre alcançadas pelo trator, que era praticamente do mesmo tamanho que meu coração. Muitas vezes, no lugar do trator eu enxergava a mulher, mas era fruto da minha incapacidade, já bastante conhecida, de dissociar ver e querer. Querendo ver minha vontade realizada, eu via aquela mulher cuidando de uma horta lá em Bocaiúva, a gente tomando um espumante na frente da fogueira depois de ter colocado os filhos para dormir, a gente chapado tirando a roupa, eu duas horas beijando as pernas dela. Era o que eu via no lugar do trator eterno. Isso acontecia por pouco tempo, o mais era ver o trator, era cair chorando no sal e aos poucos ir perdendo os dentes nas pedras. Quando eu vi, eu tinha passado a vida insatisfeito. Podia ter tentado amar o trator.
Do Gabriel.
Saturday, August 21, 2010
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