Thursday, August 12, 2010

Por um longo tempo, eu decidi não olhar mais para tuas fotos. Não tinha força de olhar no teus olhos, mesmo que você não estivesse realmente ali. Hoje eu acordei com nostalgia, vontade de olhar minha caixa de recados do passado. Entre cartas e lembranças, achei uma fotografia preta e branca de você, olhando para a câmera com a cara que você costumava fazer quando posava para a foto. Teus olhos castanhos, que mesmo no preto e branco, se destacavam, a pele bem branca de quem não via o sol há muito tempo, a boca um pouco rachada, a barba mal-feita, o cabelo longo e liso e um sorriso de canto de boca, porque você não sorria com dentes em fotos, a não ser quando eu aparecia também. Te olhei por um tempo longo, entrei nos teus olhos mais uma vez, como se fosse nos velhos tempos. Peguei uma lupa nova que comprei, olhei sua pele bem de perto, seus olhos, seu pescoço. Tentei achar o que já não via mais. A sensação de te olhar novamente foi estranha, assim como a primeira vez que te vi. Foi como se eu não tivesse o direito de olhar nos teus olhos e me aprofundar. A única diferença é que na primeira vez, eu não tinha intimidade suficiente para fazer isso e desta vez, a intimidade tinha se dissipado no ar, como uma fênix mitologica que nasce, cresce e morre, deixando apenas cinzas pelo chão. O que eu via em você eram as cinzas. Eu te achei bonito, muito bonito. Por um segundo, senti um aperto no peito e então respirei. O aperto passou e eu começei a te olhar como a beleza que não via há muito tempo. Tentei lembrar da tua voz. Acho que esqueci. Olhei pela última vez para a íris e vi algo que nunca tinha reparado naquela singela foto. Vi bem dentro das meninas dos teus olhos, conforto e amor ao me olhar tirando a foto.

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