Thursday, February 4, 2010

Os dedos da mão caíam pela lateral da banheira, murchos como passas. Entre eles, um cigarro. Nas unhas, vermelho. Os olhos verdes estavam quase cerrados com o efeito da água quente e da nicotina que percorria suas veias. Ela tinha o olhar fixo em um ponto da parede. Os cabelos, metade molhados, metade secos, envolviam seus ombros brancos e tomavam a forma de teias de aranha pretas, como aquelas que ela imaginava quando lia Edgar Allan Poe. Tragou o cigarro, sem distanciar o olhar daquele mesmo ponto da parede. Levantou então as pernas mais brancas que suas pílulas de anfetamina que acabara de tomar e moveu os dedos dos pés um atrás do outro, vendo a graça que tinha sacudí-los e embalá-los nas ondas que a água da banheira fazia. Pôs as pernas de volta na água. Adorava sentir o choque térmico entre o calor da água e o frio do ar. Talvez a vida dela fosse assim. Quente, frio. Por isso o uso das anfetaminas, cigarros ou qualquer droga recreacional que ela tomasse. Ela queria balance. O balance da água quando seus dedos dos pés moviam.

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