Friday, March 20, 2009

Estações.

Avistou um café do outro lado da rua.
Luzes vermelhas traziam uma imagem aconchegante do lugar.
Fechou seu guarda-chuva amarelo e adentrou, com o sobretudo preto molhado.
Um sininho tocou, avisando sua entrada.
Guidões de bicicleta enfeitavam o teto e em cima das mesas, flores de todas as cores faziam o tom amadeirado do lugar ficar um pouco mais vivo. 
-Deseja alguma coisa?
-Ah... sim, um chocolate quente, por favor.
Seus saltos vermelhos faziam um barulho aguçado.
Sentou-se na mesa mais perto da janela, que cobria toda a parede e podia-se ver de dentro, pessoas correndo das gotas de água de caíam do céu.
-Obrigada.
Ela se sentia bem naquele lugar. Reparava cada detalhe. A coloração das paredes, as cabeças de bonecas penduradas ao lado da geladeira dos anos sessenta e os sapatos de salto de variadas cores enfileirados em uma prateleira à sua frente. Tirou seu livro de sua bolsa e começou a ler, tentando fingir que não tinha percebido a ausência de uma alma viva naquele lugar.
-Você tem alguma bebida alcoólica?
-Rum.
-Martini, não?
-Apenas rum.
-Pode colocar um pouco em meu chocolate?
Ela pegou uma garrafa que parecia ter sido guardada por quinhentos anos e abriu, servindo um pouco do líquido à sua cliente. Pode perceber suas cicatrizes assim que ela se aproximou, cobrindo levemente a bochecha esquerda. Era uma mulher bonita, mas carregava na pele, muitas marcas da vida. Ela abaixou os olhos e tomou um gole do chocorum.
-Muito bom.
-Você é dessa cidade?
-Não, estou de passagem. Amanhã vou embora.
-Tem lugar para ficar?
A mulher tinha-se sentado agora em sua mesa, mostrando um sentimento que era claro desde a primeira vez que a tinha avistado, solidão. Seu avental cobria-lhe as pernas brancas e os cabelos loiros caíam-lhe pelo rosto. Devia ter entre trinta anos. 
-Vou dormir em algum albergue.
Ela a indicou uma placa com os olhos. "Lara's Café e Albergue".
-Vou preparar sua cama. Você prefere lençóis ou cobertores?
-Os dois, por favor.

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