Tuesday, January 19, 2010

Uma luz.


Ela estava parada embaixo de uma das marquizes. Não conseguia parar de sorrir, olhando as pessoas que passavam com as cabeças baixas. Os poucos que a olhavam, retribuíam o sorriso. Para ela, o mundo estava mais colorido e belo. Tudo era amarelo embaixo daquela marquize. Os ônibus que passavam, os guarda-chuvas que saracoteavam, as botas que trotavam pelo chão cinza com bitucas de cigarro e joints jogados na rua. A chuva caía bem devagar e as gotas pareciam pedaços de diamantes mais valiosos que próprios diamantes verdadeiros. Ela fumava um cigarro e sentia como a fumaça entrava e saía de suas cavidades pulmonares, relaxando o seu corpo. Nos ouvidos, fones caíam pendurados, tocando The Beatles. "When the night is cloudy, there is still a light that shines on me. Shine until tomorrow, let it be". Começou então a pensar que estava exatamente embaixo da marquize que testemunhou o início, meio e final do movimento hippie dos anos 60 à 70. Em quinze minutos, ela sentiu o sentimento verdadeiro do que era estar nesse movimento, como se ela tivesse regressado aos seus livros de história dos Estados Unidos. Haight Street, where everything begun. Então com o sorriso maior a cada tragada de cigarro, ela saiu debaixo da marquize e entrou aonde a chuva caía, abrindo os braços e a boca, com vigor e vontade, para sentir a água que caía do céu. Ela sentia que aquelas gotas tinham visto toda a cidade antes de cair nos seus poros. Assim mesmo, os Beatles continuavam cantando. "There's nowhere you could be that isn't where you're meant to be". Tudo fazia sentido. Ela fazia sentido. E a cidade amarela respirava junto com ela.

No comments: