Monday, January 25, 2010

Sobre minhas calcinhas furadas.

Pintava-se a atriz, antes de entrar em cena. Com as sapatilhas negras no pé, torcía-os quando passava o lápis vermelho em cada extremidade do olho. Puxava o cabelo para trás e dava um nó para prendê-lo, deixando todo o rosto à vista. O vestido vermelho trazia para dentro de si, uma personagem, que já estava dentro dela há anos, mas só descobriu há alguns meses. E alí, naquele camarim, a atriz se pintava, cantarolava e suspirava. Ao levantar-se, se olhou pela última vez no espelho. Os olhos vibrando de emoção, o coração pulsando na veia, as mãos tremilicando de nervosismo. Com ouvidos atentos, seu corpo jogou-se de dentro da cochia para o palco, como um pulo de pára-quedas. A sensação era magistral. As luzes esquentavam seu corpo, as palavras envolviam sua mente e a atriz respirava. No chão daquele palco, ela só respirava.

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