Sunday, December 7, 2008

Pensamentos Funestos.

Olheiras caíram aos meus olhos quando te vi atravessando o portão de embarque. Me jogou um olhar de sobressalto, atirou um sorriso que eu assistia todos os dias da minha vida desde que você nasceu. E me abraçou.
"O que você acha do meu cabelo?"  
Você teve a coragem de me perguntar qualquer pergunta leviana, como esta.
"Tens um cigarro?"
Continuei te olhando, como se as olheiras piorassem com as luzes se intensificando e como se a tua culpa sobre tudo o que aconteceu comigo por quinze anos se amaciassem extremamente.
Merda. Chegou minha hora. 
"Eu tenho que ir. Ele está me esperando."
Minha voz rouca atravessa meu esôfago com intensidade, finalmente. Meus lábios estão rachados e brancos, como se fossem o chão do sertão, sem água, lascados, rachados.
Sinto necessidade de algo, sem saber o que é. 
Você me entende? Não. Eu sei que não. Não faço questão de perguntar oralmente. Você sabe o que eu penso, não sabe? Sabe o que eu penso sobre você e seu sorriso jubiloso, tua face impermeada de angústia, coberta de maquiagem.
Tuas olheiras não são como as minhas. As tuas são de cansaço, de estresse, no trabalho, no casamento, coisas comuns, reais. Teus lábios são carnudos, vermelhos, saudáveis. Eles dizem que os lábios dizem muito sobre a vida sexual de alguém.
Aposto como você se deita relaxada na banheira, não deita?
Eu não. Eu me encolho, como uma semente. A água quente que desmoraliza qualquer transtorno do dia-a-dia te fazem fechar os olhos e sentir-se como uma flor tomando água nas raízes. Os meus transtornos germinaram comigo, há quinze anos atrás. Eles estão aqui. Eles vão ficar. Na banheira, no aeroporto. Em mim. Pra sempre.

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