Tuesday, February 24, 2009

Pelo nove de fevereiro.

Dia nove de fevereiro passou quase como que despercebido.
Eu tinha me esquecido, nunca faço isso com ninguém. Acho que o amor ficou forte demais e acabei vagando por aí e minha mente não pairou no lugar que deveria. Hoje e sempre, eu quero dizer mil e uma coisas que inexistem no mundo das palavras, que são simplesmente sentidas. Eu descobri minha alma gêmea. E sabe que alma gêmea, na minha opinião, não precisa ser um amante, mas também pode ser um amigo, um familiar ou até mesmo alguém que passa na rua e você nem conhece. E eu fico feliz de ter encontrado a minha, pois entre tantas pessoas no mundo, a minha poderia estar perdida por aí. O mais engraçado é que nascemos pertinho um do outro, ele veio depois de mim, quando eu já estava fazendo meu aniversário de um ano. Cresceu como um garoto exótico, sempre foi tímido, diferente de mim, o que reforça minha idéia de que ele é realmente minha alma gêmea. Essa coisa de ser exatamente o oposto me faz sentir cada vez mais próxima a ele, tornando cada dia mais os caninhos das nossas mentes ligados. É um quebra-cabeça que se pode montar, encaixando cada peça em seus lugares perfeitos... e cada uma delas são diferentes das outras. Lembro então da primeira vez que o vi. Tinha o cabelo curtinho, do jeito que eu não gosto e sentava na parte de trás da sala. Apesar de ser um dos alunos mais inteligentes da sala, gostava de ficar atrás. E logo logo sentou atrás de mim. Não consigo conter o riso quando conto isso, mas ele me odiava. Ficava me cutucando a aula inteira e mexendo no meu cabelo com a ponta da caneta pra me deixar nervosa. Eu, criança, virava irada e com a cara vermelha e falava: PARE. Então me espreguiçava pra roubar o seu espaço e encher o seu saco. Brigávamos de gritar, até. Ou melhor, eu gritava. Ele fazia cara de nojinho. Então eu contava para a professora coisas mínimas que ele fez, pois era dedo-duro e chata. De pouco em pouco, fui me metendo no seu grupo de amigos, mas não gostava nem um pouco dele. Na realidade, não me importava em tê-lo do lado, pois podia contar histórias mais fantásticas que as dele e deixá-lo se sentir mal por não ter tido experiências tão legais que as minhas(até inventava de vez em quando, pra parecer mais fodona). Foi injusto o jeito que fui virando a líder do time. Me arrependo hoje em dia, nem criança faz esse tipo de coisa. Não é muito certo. Mas eu realmente queria me mostrar para ele. E de certa forma, dentro de mim, algo dizia que eu precisava me mostrar para ele pois ele era fantástico. Eu não gostava de aceitar o fato, por isso o pensamento era um pouco inconsciente, mas hoje sei que eu tinha uma vontade louca que ele ficasse interessado por ser meu amigo. Era quase como um desespero. Em breve, a nossa turma tinha crescido e todos estavam fortes e seguros de si mesmos. Ele tinha mudado, eu também. Todos nós tínhamos mais experiências e estávamos mais bonitões. Ele já tinha crescido treze metros e eu continuava baixinha. E ele tinha agora o Black Power na cabeça, que eu amava. Nessa época de 2004, todos nós tínhamos virado adolescentes! Pavor. Mas era verdade, e todos os nossos preconceitos do tipo meninos não tocam meninas tinha passado. Agora era sair no shopping depois do colégio e pular no pescoço um do outro, fazer carinho no cabelo, apertar a bochecha, deitar a cabeça no colo do outro. Eram descobertas engraçadas e ninguém tinha nenhum pudor nisso, mas fazíamos porque era uma coisa nova. Ele era o mais contido, porém, diferentemente de mim, novamente. Eu não ligava de deitar em cima dos guris pois sabia que todos me viam como outro piá. Mas ele continuava só no beijo na bochecha e abraços curtos e rápidos, sem encostar peito com peito. E era engraçado, era diferente vê-lo se constranger com uma menina que ele considerava uma inimiga que "roubou" os seus amigos. Mas isso mudou no ano de 2005, quando ele se abriu completamente a mim e até disse "te amo" pela primeira vez, por um e-mail que mandou da Europa, quando foi conhecer. Era um ano que estava estusiasmado, feliz com a vida e saltitante. Bom, saltitante ele foi poucas vezes, pois sua timidez não permitia tanto isso acontecer, mas acontecia. Não lembro exatamente como começamos a ser grudados, mas lembro que me fazia muito bem sair com ele e contar meus segredos e ouvir alguns dele. Eram horas do dia que passavam voando. Olhávamos o relógio depois de horas juntos escolhendo cds para ouvir e falávamos: tenho que correr. Eu sempre perguntava se ele não queria me levar até em casa, mas me sentia culpada de ter que descer tudo de novo e falava que iria sozinha. Fui descobrindo com o tempo, um oposto exato meu. Uma pessoa que tinha tudo que eu não tinha mas que me fazia ver a vida bonita do lado que ele via também. Era fantástico e eu sempre dizia sim quando era pra gente se encontrar. 2005, 2006, 2007 passaram e eu dei a notícia que iria embora dali, com o coração na mão e chorando. Ele ficou quieto e baixou a cabeça, não sabia direito o que fazer nem o que dizer, era dif'ícil pra ele expressar os sentimentos, diferentemente de mim, que me debulhava em lágrimas. Estávamos na frente da PJM quando soltei a notícia, em pé, embaixo do longo e amarelo prédio. Ele me perguntou para onde eu iria e na época, achava que iria para a Europa. Falei que ia me mudar pra Barcelona, pelo menos eram os planos da minha mãe. Ele me abraçou e esqueceu de todos os pudores que tinha na sexta ou sétima série. Abraçou forte e não disse nenhuma palavra. E eu, não entendendo, disse: olha, eu sou uma chorona mesmo. E ele deu risada, como sempre dava. Meu coração ficou apertado por tanto tempo depois, sabendo que não teriam mais sextas nos shows da Fnac, bolinhos de queijo, coca.com.gelo, francês errado, livros sobre placas, andarilhos pelo centro, vídeos com amigos, parque Barigui, natal Marista, PJM e ele do lado, fofocas, conselhos, idéias iguais, gostos iguais... nada daquilo eu teria longe. Mas eu me enganei. Eu carrego comigo hoje, depois de dois anos longe, uma amizade que não tem nem palavra para explicar. É coisa de filme, é tão precioso que eu tenho medo que alguém tire de mim. E eu preciso sempre regá-lo. Saber que ele sabe disso tudo, saber que ele sabe do amor fraterno imenso que tenho e que sinto vontade de chorar quando falo sobre, pois é grande demais. É coisa de irmão, coisa de melhor amigo, coisa de pessoa muito, mas muito amada que não chega a caber aqui ou em qualquer outro plano físico. Vai até Plutão e volta. E vibra a minha admiração por ele... de querer ser mais parecida. Mas sei que isso não é feito pra acontecer, pois a gente se completa em qualquer lugar. E mesmo assim, eu desejo ter uma pitada do que é por dentro. Esse cara que eu conheço de cabo à rabo e que amo tanto que já virou parte de mim, parte do meu sangue. Esse cara que escreve bem, que sabe divertir e se divertir. Esse cara que ama e aprecia a própria cultura. Esse cara que quer ser diplomata e esse cara que tem a pele que estica. Esse cara que ama filmes, músicas, arte e línguas. Esse cara que tem medo do futuro mas que sabe que tudo ficará bem. Esse cara que não sabe dar conselho, mas o olhar e o abraço já diz muito. Esse cara que tem veias grossas nas mãos. Esse cara me segue com o olhar de um jeito de quem estivesse cuidando, como um irmão. Esse cara que põe a cabeça pra baixo quando ri e aperta os olhos fechados. Esse cara que é sensato, calmo e cede sua própria felicidade no lugar da felicidade dos outros. Esse cara que gosta de andar e que tem pernas de saracura do banhado. Esse cara que pula alto e que fica melhor com certeza de Black Power. Esse cara que não é nem um pouco Don Juan, mas adora contar sobre suas meninas. Esse cara que admira tanta gente e que também é bem admirado. Esse cara que conhece o exterior e me trouxe chaveiro de lá. Esse cara que ama calado. Esse cara que zombeia dos amigos patetas. Esse cara que estuda que nem um louco. Esse cara que tem uma pinta grande perto do queixo e outra no nariz. Esse cara que é um amigo indispensável em qualquer lugar. Esse cara que é o meu favorito, o que eu mais gosto. Esse cara que eu amo. Esse Kramer.

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