Maria Eduarda levanta os olhos vermelhos e cheios de lágrimas.
Romilda segura seu queixo e olha para ela como quem quer confortar.
Nada dessa história de ficar choramingando pelos cantos da casa como se alguém tivesse passado um arpão pelo teu coração. Tão nova e sofrendo assim, onde já se viu?
Romilda pega um pano de prato e começa a esfregar o balcão da cozinha.
Sabe o que você parece? Aquelas meninas das histórias que passam na rádio... aquelas que sofrem por amor. Um dia eu ouvi uma história de uma moça novinha, assim, que nem você(arregala os olhos como se tivesse achado um tesouro)! Não, mais nova, até(coçando o queixo)... quatorze anos, se eu não me engano...
Maria Eduarda senta-se no banco da cozinha, interessada na história. Adorava ouvir as histórias de Romilda.
Ela era apaixonada pelo menino mais lindo do reino, mas as famílias se odiavam. Não podiam nem se olhar que já ficavam com fogo no rabo por uma bela briga de espadas(a mão protege as nádegas). O fim, só sei que acaba em tragédia. Acho que o moço se mata, a moça... não sei bem direito, mas sei que eles morrem por causa de amor.
Pausa. Maria Eduarda cai em si, enxuga os olhos que choravam há pouco e olha mais uma vez para Romilda. Ela sabia que Romilda falava sobre Romeu e Julieta.
Onde já se viu? Menina tão novinha assim, com o coração cheio de sede. Vai sofrendo assim por homem agora, minha filha, vai... quero ver como você vai estar daqui quinze anos.
Romilda ri alto e Maria Eduarda dá um sorriso tímido.
Minha mãe sempre dizia: homem não presta. Só faz falta na hora de trocar a lâmpada! Não ligue pra essas besteiras não, minha filha! Homem vai, homem vem.
Romilda dá um salto de susto.
Mas vixi, Maria Eduarda, o peru vai queimar, abre o forno ali pra mim, menina! Ô, cabeça de vento!!!
Maria Eduarda pula da cadeira, pega um pano de prato e sai correndo para acudir a carne. Tinha se esquecido de Roberto. Por um instante, mas tinha.
-E não vá se queimar!!!!!!!!
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