Friday, May 21, 2010
Hoje é o último dia da nossa história. Quando acordei, vi teu casaco pendurado na cadeira e minha cabeça começou a rodopiar sobre as lembranças da noite anterior. Me lembro de pouco, pois o vinho tinha me subido à cabeça. Lembro de nós gritando, a vizinhança acordada, as luzes se acendendo, você pedindo para eu falar mais baixo. Depois de um estrondo da porta do quarto fechando, as luzes começaram a se apagar, inclusive a que eu desliguei, dentro do quarto. Precisava do escuro, precisava do negro, o inexistente. Conseguia ouvir os estalos dos seus dedos e joelhos na sala, mexendo desconfortáveis, como se pensassem em mil possibilidades definidas. Ouvi seus passos em direção ao quarto, a porta se abriu e de leve, você me abraçou, mas não era um abraço de reconciliação. Não dessa vez. Esse abraço era desesperado, triste, afogado. Entendi então do que se tratava aquele momento e me quebrei ao chão, bêbado em vinho, tentando tatear no escuro e te achar nas prateleiras, nos cadernos, na janela. Você estava ali, mas já não estava mais. Te abracei contido em meu silêncio tenebroso, com medo, com fúria, sabendo que tudo tinha se acabado. O silêncio permitiu o nosso último beijo, nosso último afeto, nossa última transa. Você me abraçava, sentada no meu colo, chorando, passando todas as mágoas para o meu corpo destruído, calejado. Me beijou no chão, deitou em meu peito nua e não disse mais nada. Esperou até a luz do sol matinal invadir o quarto, jogou o vestido por cima do corpo, tomou um gole da água em cima da cabeceira e passou pela porta, para nunca mais voltar. Acordei na ressaca, podre como uma fruta velha, ressecada e sem sabor. Você passou pela porta e nunca mais voltou.
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